quinta-feira, julho 21, 2005

LEX DUKE

Descrever esta ave rara é tarefa ingrata. Talvez porque, na sua constância refinada, lapida a ambivalência com a arte de um escultor. Deambula entre clics fugazes, em combustão espontânea, e perscruta a vida no seu ideal imaginário. De gostos refinados, exigente e criterioso, está sempre um passo à frente de quem o procura desnudar. Resguarda-se nas entranhas de um humor superior e invulgar, porque o divertimento é a nora da sua existência e degusta a seriedade da vida com um requintado travo de comédia. Olha a monotonia e a vulgaridade como as maiores pandemias da existência humana e escorrega-se-lhes num ímpeto dilacerante e obsessivo. Aventureiro incontrolável, é quase inconsequente na busca do talento que o fará sublimar-se e converter-se às malhas da paixão. E nesse mergulho lascivo e vertiginosamente fugidio, insurge-se na sua idiossincrasia mais remota e autêntica… como uma ave rara, de indescritível candura.

quinta-feira, abril 29, 2004

3D

É um palerma refinado, de gostos invulgares e de ideias muito próprias. Desloca-se de hiato em hiato, onde existe algo por preencher. Consegue ser impenetrável, aliás, não sabe ser de outra maneira. Quando alguém lá chega, já ele veio embora há muito. E nesse ímpeto escorregadio, está muito para além do que os outros podem ver. Às vezes é como se fosse um holograma, parece estar ali, mas não existe em matéria corpórea.
Detesta as realidades fáceis. É indissociável de um humor imediato, tudo serve para satirizar, desde que não seja fácil. Adora metáforas e sublima tudo o que não lhe é tangível.
A sua extrema sensibilidade é demasiado densa e opaca. E por isso não se mistura, circunda apenas. Mostra aos outros muito pouco do que verdadeiramente é. Há quem lhe chame antipático nato. E ele adora, porque sabe que é o ex-libris do seu charme. Mas fica por aí. Defende-se com um arsenal invejável que é, na verdade, o espelho de todas as suas fraquezas. Perde-se e encontra-se, perde-se e encontra-se, perde-se e encontra-se… e nesta deambulatória de encontros e desencontros entre si e si mesmo, nunca ninguém lá está para o amparar porque, à partida, ninguém o viu cair…

quarta-feira, abril 28, 2004

Betty Boop

A sua doçura tem tanto de enigmática quanto de encantadora. Admiro-a pela sua independência e pela forma como a sua juventude lhe ferve nas veias, embora trema perante novos desafios. Recordo com um sorriso todos os momentos em que nos juntamos para negar a monotonia e gozar com os cromos. É uma pessoa dotada de uma transparência invejável e não consigo conceber a minha vida sem a sua presença.

segunda-feira, abril 19, 2004

BONEQUINHO CONFESSIONÁRIO

Deve ser a pessoa com quem tenho maior cumplicidade e que melhor me conhece. É alguém que aprendeu a desnudar o meu interior e sabe ler a minha alma. A sua inteligência e argúcia são por vezes um obstáculo quando pretendo esconder algo. Ensinou-me que não devemos esperar das pessoas aquilo que queremos, mas antes (e apenas) aquilo que sabemos que podemos esperar.
É um resistente à mudança e gosta de se mover em chão firme. A sua fragilidade não está ao alcance de todos e perscruta no horizonte a vontade de ser livre, livre dos medos e da incerteza, da insegurança e do risco incalculado.

Tem muito medo de amar, mas quando ama, não tem limite…

E eu sei isso, mesmo cá dentro…

Beijo grande cheio de amor.

Duende

O CUPIDO

Falta-lhe o arco e as setas. A sua imaginação é divertidamente assustadora e às vezes sinto que a sua perspicácia ultrapassa o inteligível. Não conheço ninguém com tamanha força interior e a coragem na forma como lida com o adverso recorda-me a expressão “O corpo dá sempre mais…”. Gosta de se proteger de quem não lhe interessa, mas tem uma capacidade de entrega infindável e vive a felicidade dos outros como se fosse a sua.
A sua rigidez impele-a muitas vezes para uma crítica mordaz e impiedosa. Não obstante, a sua racionalidade e sentimento de justiça equilibram o seu vício avaliador, muitas vezes carente de base segura.

A imensidão de carácter que emana da sua alma faz-me sentir que, sem ela, eu seria muito mais pobre.

Duende

sexta-feira, abril 02, 2004

Hoje inicio uma maratona de posts dedicados a pessoas que assumem importância na minha vida. A ordem pela qual as vou apresentando é aleatória, consoante dita a minha vontade...



GELI
Un día nos cruzamos… tu sonreísa y amabilidad contagiáron el ambiente como una raya de sol. Y no fuí, jamás, la misma.

Los desayunos a las siete de la mañana, tu mala leche de un sueño que no dormiste, el cepillo en las rayas de los pasillos, las bromas y cachondeos, las charlas serias, el albariño en el sótano, la sesión de fotos, el maquillaje antes de las movidas, el “kiriki y a la puta calle”, los calamares intragables, el queso con membrillo divino, el pan tomaca con ketchup, las enanas demoníacas, las pelis dobladas y el “Yupi, cabrón” (por Dios), la cremación de Alejandro, las sábanas azules, la salida por la puerta grande, la cena portuguesa, el argentino y sus pringaos, el “me pongo colorada cuan-do me mi-ras”...

Lo cuanto te quiero no se escribe ni con cientos y cientos de palabras. Y la ilusión que me hace nuestra cumplicidad jamás se extingue. Haces parte de mi vida, no como un simple recuerdo, pero como una realidad inegable... sigue ardiendo en mi alma la magnitud de nuestra amistad y te sonreío todos los días, como se estuvieras a mi lado.

Y ya cuando séamos abuelitas, con las espaldas encorvadas y la piel arrugada, jugaremos, como dos crías, las memorias de un pasado, la alegria del presente y la promesa de un futuro...

Duende

quinta-feira, março 25, 2004

CLIC

Não são raras as vezes que as pessoas utilizam este termo, não para reproduzir verbalmente um estalido de determinado objecto (como quando se liga um interruptor), mas antes referindo-se ao fenómeno que se desenvolve, sob a forma de combustão espontânea, quando se sentem particularmente atraídas por alguém. Este clic vale o que vale, embora assuma valorizações diferentes em função dos contextos e da personalidade de cada um.
Dizia-me um amigo que “quando não há o clic, apesar de haver atracção, mais vale não investir, porque acaba por não resultar em nada”. Na verdade, são muitos os que sustêm a ideia de que, sem esse clic, o desenvolvimento de algo mais profundo está rotunda e automaticamente condenado ao fracasso, como se fosse uma condição sine qua non
A minha visão diverge, em grande escala, desta crença, uma vez que pode redundar num minimalismo que, per se, constitui um inibidor, à priori, da transposição da superficialidade. Na história dos relacionamentos, as relações pré-concebidas de causa-efeito são altamente falíveis, o que sugere que esta crença parece não ter validade nem utilidade.
Reconhecendo que o clic funciona como uma predisposição inicial para o avanço, acredito, não obstante, que este não tem de ser, obrigatoriamente, espontâneo e imediato, sendo passível de uma depuração gradual resultante de combinações multifactoriadas. Além disso, nem sempre este fenómeno consegue operar-se na esfera do consciente, pelo que o clic pode ter ocorrido num precedente não considerado e apenas se vir a deduzir a sua manifestação muito mais tarde.
Nessa linha de pensamento, fará sentido pautar os nossos investimentos pela ausência/presença de clics imediatos? Estar-se-á, eventualmente, a coartar a hipótese de vislumbrar esse clic à posteriori… E tenho reparado que, ao reger-se por esta ideologia, a pessoa torna-se cada vez mais exigente na busca desse clic, reduzindo ainda mais a possibilidade de o encontrar.
A naturalidade e espontaneidade das coisas não deve ser congeminada, pois que se aniquilam de imediato. E torna, assim, a vivência emocional muito mais limitada…

Duende

terça-feira, março 16, 2004

Hoje faço anos. Nada de novo. Quarto de século. Três brancas novas. Boa auto-estima.
E o Lost in Translation é do melhor que já vi...

Duende